REINALDO DE CASTRO
( São Paulo – Brasil )
REINALDO Newton Marcondes DE CASTRO nasceu em São Paulo em 14 de Dezembro de 1932, onde exerceu a profissão de jornalista.
Com colaboração regular no Suplemento Literário de “ O Estado de São Paulo” e “Gazeta”, já publicou “Desagregação” (poesia ) e “O Pássaro Exacto e Exercício de Voo”(poesia).
MÁKUA ANTOLOGIA POÉTICA 2. Sá da Bandeira, Angola: Publicações Imbodeiro, 1963. 61 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
A HORA DO SOL PÔR
Um súbito tremor perpassa e põe olhares lúbricos
no ar que é todo ele um sinistro encantamento.
A hora é de loucuras e sortilégios atávicos
subterraneamente ressoando
em nossa câmaras mais íntimas e ocultas.
É um transe despertarmos as lembranças nebulosas
de um país verdadeiro e antiquíssimo
de que partimos um dia impuramente
à hora do sol pôr.
Habitantes inconclusos
eternos permanecemos com um perfume de exílio
e a nostalgia do porto abandonado e que nos volta sempre
à hora do sol pôr.
Mas o porto está em nós
eterno e sonolento.
E transitam-nos os ritos de pureza adormecida
com que, deuses, brindávamos diurnos
num suave paganismo.
E o mesmo sortilégio de demência quase
defronta-nos o mar quando o auscultamos
exilados prisioneiros esforçando-nos em vão
distinguirmos na distância o porto que deixamos.
Mas o porto está em nós
eterno e sonolento.
Efêmeros entornamos nossas taças prosseguindo
numa peregrinação de desalento e de outonal langor
e embalamo-nos com gestos exteriores e gratuitos
iludindo na amis vã das dispersões
nossas ânsias de retorno à pátria imponderável
perdida para sempre nas brumas do ter-sido
e nos oprime o peito à hora do sol pôr.
VISITA
estive no Templo e voltei
com oiro nos olhos voltei
nas bocas amargo cansaço
coroas de espumas nos pés
quebrei os gigantes de vento
de mitos do ser me alcancei
debrucei-me nas orlas do tempo
e na sombra dos mares cresci
tive auroras nos lábios pendentes
tive sóis em meus olhos queimados
e de noite as cobre de vergastes
e com mantos e muros d enganos
fiz couraças de sempre e sorri.
Estive no Templo e voltei
mas o templo em que estive era mar:
o que estive no Templo tragou:
era estátua de vinho e de cal.
DE NÃO SORRIR
investir no tempo a plenitude de nossas gazelas:
esforço ingente —
adormecer à sombra inquieta de nossos mortos:
púrpura estéril —
tentar indiferente em outro braços o enlace ausente:
baldado e vão —
beber nos copos azuis o desespero da aurora:
ingénuo engodo —
tritura nos lábios a polpa tenra do amanhecer:
doirado incestos —
interromper no estômago o fuzilamento dos príncipes:
inglório fácil —
derrotar em nossos corpos alados o desprezo dos pássaros:
vitória débil —
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
de que nos premiarmos nos combates
inúteis e risíveis nos Espaços?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
imóvel decorrer-se:
ausentar-se na distância verdadeira
em corpos coloridos invisíveis
guardando nos caminhos quotidianos
os passos de cimento necessários:
razão de eco.
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